Me encontro em tantas outras. Não cabe depressão em mim. Esse
é o mantra que tento repetir, tem horas que falha. Na verdade, acho até que a
depressão é o que me faz ser feliz. Sou, me esforço para ser. E acabo sendo, de
verdade. No riso dos outros encontro o meu gozo. Não há nada que me deixe mais
completa do que a felicidade dos que me acompanham.
Aos outros, tantos outros, que com o olhar matam. Julgam. Invejam.
Têm medo. Dou desprezo. Admito que não acho a forma mais eficiente de convencer
ou ensinar sobre minha condição sexual, mas assumo que tentar demais isso já me
expôs tantas vezes que pareço não ligar mais. Fadiga. Cansei, amiga!
Ando lendo um livro que uma amiga me indicou, talvez seja
por isso que resolvi escrever. Quase como inveja do autor. Não sei criar
ficções, por isso, faço de mim ficção. Apenas pra poder escrever mais tarde.
Pratico diariamente esse exercício.
Mas não pense que sou falsa, superficial ou personagem. Sou
personagem de mim, do momento. Asas para a parte que já afoguei. Voa bem, voa linda!
E você vai dizer que é o que acha que é? Se assume que é o que tenta ser, já é
um grande passo!
A correria consome meus dias. Me sinto animal, busco
alimento diário. Ler no transporte e escrever sob essa luz fraca são a parte do
meu dia que posso reviver o pouco que passei por hoje. Mas não faço disso
depressão. Essa é a condição que estou. O fato de ter pau e peito no mesmo
corpo faz com que pensem que sou incompetente? Vulgar?
Pessoal aqui do quarto está reclamando, querendo dormir e
luz está atrapalhando. Amanhã, vou num bar, tô tentando um acordo com eles. Talvez
faça shows para aumentar a frequência. A lapa está morta, morreu com a nossa
saída compulsória.